Lembro-me muito bem dos meus dias como Gerente de RH em um banco numa relação quase simbiótica com o terno e a gravata. Era como se essa roupa fosse um passaporte obrigatório para o sucesso e a seriedade. Mas, com o passar dos anos, testemunhei e participei de uma transformação significativa no modo como nos vestimos para o trabalho, e o impacto dessa mudança vai muito além da simples escolha de roupa; ela reflete profundas mudanças na cultura das empresas e no modo como trabalhamos hoje.
Nos anos 90, a moda corporativa era dominada por um código de vestimenta rígido. O terno e a gravata para os homens e o tailleur para as mulheres eram sinônimos de profissionalismo. A ideia era clara: vestir-se de maneira formal era uma demonstração de respeito ao ambiente de trabalho e à seriedade dos negócios. O dress code funcionava como um uniforme, uma forma de padronizar a aparência dos profissionais e eliminar qualquer possibilidade de distração visual.
A formalidade extrema, porém, não considerava um aspecto importante: o Brasil é um país tropical. Com temperaturas muitas vezes beirando os 40 graus, usar terno e gravata se tornava uma tortura. Mas, mesmo assim, era um sacrifício necessário para ser levado a sério no mundo do trabalho.
Um belo dia então, eis que surge a maravilhosa “Casual Friday”, ou “Sexta-Feira Casual”. Inicialmente uma prática importada dos Estados Unidos, onde foi introduzida para aumentar o moral dos funcionários, ela logo ganhou espaço aqui no Brasil. A ideia era simples: permitir que, ao menos uma vez por semana, os profissionais pudessem relaxar o dress code, trocando o terno por roupas mais confortáveis, como calças jeans e camisas polo.
O “Casual Friday” representou uma primeira brecha na muralha do formalismo. Não era apenas uma questão de conforto; era uma pequena revolução que começava a desafiar a noção de que a formalidade extrema era indispensável para o desempenho profissional.
A partir do início dos anos 2000, a informalidade no dress code começou a se expandir além das sextas-feiras. Empresas de tecnologia, especialmente no Vale do Silício, começaram a adotar uma postura mais relaxada em relação à vestimenta, influenciando o mundo corporativo global. A gravata começou a desaparecer, e o terno foi substituído por blazers mais casuais, ou até mesmo camisas sociais sem paletó.
No Brasil, a adesão a esse novo paradigma foi gradual, mas constante. O clima tropical passou a ser um argumento legítimo para a adoção de roupas mais leves e informais. As empresas começaram a perceber que o conforto do pessoal não apenas aumentava a satisfação no trabalho, mas também a produtividade.
As mudanças no dress code corporativo tiveram um impacto psicológico significativo nos profissionais. Estudos mostram que roupas mais confortáveis podem levar a um aumento na produtividade e na satisfação no trabalho. Quando os funcionários se sentem à vontade com o que estão vestindo, isso reflete na maneira como desempenham suas funções.
Um estudo realizado pela Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, descobriu que 61% dos trabalhadores se sentiam mais felizes e motivados quando podiam escolher suas roupas de trabalho, em vez de seguir um dress code rígido. A escolha da vestimenta tornou-se uma forma de expressão pessoal, permitindo que os profissionais se sentissem mais autênticos e confiantes.
Além disso, roupas mais casuais tendem a diminuir a hierarquia visível entre os profissionais. A ausência de gravata, por exemplo, pode simbolizar uma quebra das barreiras entre chefes e subordinados, promovendo um ambiente de trabalho mais colaborativo e menos intimidante.
A flexibilização do dress code também é um reflexo das mudanças na cultura organizacional. Nos anos 90, as empresas tinham uma estrutura hierárquica rígida, onde a formalidade na vestimenta servia para reforçar as distâncias entre os níveis hierárquicos. Hoje, a cultura organizacional está cada vez mais voltada para a colaboração, inovação e flexibilidade. E o modo como nos vestimos no trabalho é um espelho dessa transformação.
Empresas que adotam um dress code mais casual tendem a ser percebidas como mais modernas e inovadoras. A informalidade na vestimenta pode sinalizar uma abertura para novas ideias e um ambiente de trabalho onde todos são encorajados a contribuir. Em contrapartida, empresas que mantêm dress codes extremamente formais podem ser vistas como antiquadas e inflexíveis, o que pode afastar talentos, especialmente entre as gerações mais jovens.
Com a gradual adoção de dress codes mais casuais, as empresas brasileiras começaram a reconhecer que o conforto é um fator importante para o bem-estar e a produtividade dos funcionários. E isso não significa falta de profissionalismo, mas sim uma adaptação inteligente às condições locais. Em resumo: faz sentido!
Para as empresas, minha recomendação é clara: abandonem os dress codes rígidos. Eles pertencem a uma época em que a formalidade era sinônimo de profissionalismo. Hoje, o que realmente importa é o resultado e o bem-estar dos profissionais. Um dress code mais flexível pode melhorar a satisfação e a produtividade dos funcionários, além de atrair talentos que valorizam um ambiente de trabalho moderno e inclusivo.
Para os profissionais meu conselho é: embora a flexibilidade na vestimenta seja bem-vinda, é importante ter noção ao se vestir. O “casual” não deve ser confundido com “desleixo”. Cada ambiente de trabalho tem suas particularidades, e a vestimenta ainda é uma forma de comunicar respeito e profissionalismo.
O que aprendemos com a evolução do dress code corporativo é que a vestimenta no trabalho é muito mais do que uma simples escolha de roupa. Ela reflete e influencia a cultura organizacional, as dinâmicas de poder e o bem-estar dos profissionais.
Estamos finalmente começando a entender que, em um país tropical como o Brasil, o conforto e a autenticidade são tão importantes quanto a seriedade e o profissionalismo. E essa mudança, ao invés de comprometer o desempenho, pode ser a chave para criar ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e inovadores.
#PrimeiroAsMentes